Imagine um grupo de
mulheres imitando poses surreais de editorias de fotografia de moda espalhadas pelas ruas de Madri.
2. Seis pratos de omeletes misturados a brinquedos femininos simbolizando os papéis para os quais as mulheres são educadas desde a infância.
3. Uma mulher em uma rua
luxuosa chora por uma esmola para comprar uma bolsa Chanel.
4. Uma mulher em uma fila
de museu, uma caixa de supermercado e uma atendente pública
repetem o mesmo comportamento, abandonam seus postos de trabalhos e
deixam uma placa informando "Volto em cinco minutos. Fui colocar
silicone e já volto".
5. Modelos cobertas por
escombros distribuídas em ruas movimentadas de Madri atraem a
curiosidade dos pedestres.
6. Esses são alguns
dos trabalho de Yolanda Dominguez, artista visual espanhola em que
ela demonstra a coerência da sintaxe de suas performances ou
simplesmente arte de rua: a interrogação inicial que
ele suscita, a economia de equipamentos para realizá-los, a
força da ironia e poder da mensagem.
Em seus trabalhos,
Yolanda tem a precisão de combinar criativamente os
dispositivos e meios a serviço da mensagem, invariavelmente
cheia de humor e provocação, questionando os papéis
sociais impostos às mulheres na sociedade. Porém, ela
não se restringe a essa causa embora seja seu principal tema.
Ela já se envolveu com a causa ambiental ao colaborar com o
Greenpeace orquestrando um happenning em frente a uma Loja da
Levi's em que 10 garçons distribuem garrafas de água
com rótulos que exibiram o slogan "Não importa que
você não tenha água, enquanto houver jeans.
Mas seu principal
trabalho continua sendo a performance "Poses"de 2011 em
que mulheres anônimas no centro de Madrid e em locais privados
reproduzem as poses surreais das modelos em editoriais de moda e
campanhas publicitárias. Depois de mais de um milhão de
visualizações no Youtube, uma releitura em que satiriza
a nova campanha do Chanel nº5 (2013), ela lançou
recentemente o seu novo projeto, o site "Strike the pose"
na qual os indivíduos são incentivados a participar
enviando imagens produzidas pela indústria de moda
consideradas degradantes e satirizá-las. Sobre esse último
projeto, carreira e outros assuntos ela conversou comigo para a
coluna Conexão Hypchic.
Você cresceu na
praia cidade ou campo? Que legado esses lugares deixaram para sua
visão de mundo e personalidade?
Eu nasci e sempre vivi
em Madrid, uma cidade da Espanha. Por viver aqui minha identidade foi
completamente moldada como cidadã, trabalhadora, consumidora
e uma mulher com determinado papéis. Eu apenas posso trabalhar
com sinceridade sobre minha essência. Meu trabalho tem uma série
de auto-críticas e reflexões pessoais que eu tento
compartilhar com outras pessoas.
Você pode me
contar sobre o tempo que você era criança, seu jogos e
brincadeiras? Há algum resquício desse período
que influenciou o seu trabalho?
Para ser honesta eu
sempre costumava realizar brincadeiras de meninas e de meninos, como
He-Man, Barbie ou carros. Era engraçado como eu podia
gastar horas brincando com os brinquedos do meu irmão, mas ele
nunca podia brincar com os meus. Educação através
dos jogos têm uma enorme influência na construção
da identidade de gênero.
Quando você
percebeu que a pintura, sua formação de origem, não
era suficiente para falar sobre o feminismo?
Eu comecei pintando e
via como as pessoas geralmente compram telas apenas para decorar suas
salas de estar. Eu estava mais interessada no poder de comunicação
da arte. Foi nesse período que comecei a trabalhar com
pessoas, criando performances em que elas podiam se envolver e
engajar-se com a arte feita por elas mesmas, desempenhando um papel importante.
Eu tento ficar
conectada com a realidade lendo um monte de notícias e estar
consciente do que acontece no mundo. Algumas vezes a ideia vem quando
eu vejo uma história que me inspira, outra vezes eu escolho um
tema e tento ver qual a melhor forma de dar visibilidade a ele. Eu
acho que devemos trabalhar nessas coisas que fazem você se
levantar do sofá, questões que realmente afetam você
e suas paixões.
Eu li em uma entrevista
sobre você. Nela você diz que recebe muitas críticas
e elogios sobre o seu trabalho. Você acompanha as críticas
sobre o seu trabalho? Qual a principal crítica?
A crítica é
parte do processo, qualquer um que compartilhe seu trabalho está
suscecetível a isso. É impossível agradar a
todos, nem tenho essa pretensão. Eu não quero fazer uma
arte para deleite, eu faço para provocar (e quando você
provoca muitas pessoas pode irritá-las). Dependendo de quem
faz a crítica, algumas vezes, é um triunfo.
Parece que você
se diverte enquanto organiza e vê a reações das
pessoas nas suas performances. É isso mesmo?
A reação
das pessoas sempre me surpreende e isso é o que eu mais gosto
no meu trabalho, eu nunca sei o que vai acontecer e me torno mais um
espectador daqueles que estão envolvidos. Eu gosto de ser uma criadora e me converter em um espectador. Eu acho que não é
interessante o que eu tenho a dizer para o mundo, mas oferecer
propostas ou plataformas através das quais os outros podem se
expressar.
Em alguma performance a
situação já saiu fora do seu controle? O que
aconteceu?
É impossível
controlar tudo, minhas performances têm um monte de
improvisações e é necessário tomar
decisões no momento que as coisas acontecem. Essa é uma
das razões pelas quais eu não participo diretamente,
fico no backstage dirigindo a
cena. Algumas vezes a polícia aparece ou intervém para
dar orientações para as atrizes ou explicar se pessoas
estão muito preocupados com a situação.
Qual o seu trabalho favorito? Por quê?
Eu acho que “Poses”
é o projeto que teve mais impacto e abriu meu olhos para o
potecial da participação coletiva. Esse é um
projeto realizado em 2011 e ainda hoje está circulando na
internet, em programas de educação, inpirando versões
feitas por pessoas anônimas, mesmo nos meios de comunicação
que os criticam. Mas eu tenho que admitir que o trabalho “Registry”
superou todas as minhas expectativas com forte partipação
das mulheres na Espanha e até mesmo de outros países.
Conte-me tudo sobre o
seu último trabalho “The strike pose”. Qual o seu
propósito? Quais os resultados alcançados até
agora?
Em todos estes anos eu
tenho recebido versões caseiras de mulheres que encontram uma
pose rídicula produzida pela indústria da moda e enviam
para mim. Eu achei que seria uma boa ideia construir uma plataforma
para dar voz a todas as mulheres e na qual todos pudessem partipar,
juntar-se e dar visibilidade a essa questão através do
humor. Através deste site os usuários podem fazer
upload de poses degradantes e também escolher uma versão
e ridicularizá-la.
Por que o feminismo é
uma tônica tão intensa em seu trabalho? Você já
passou por alguma situação específica em que foi
vítima do machismo?
Obviamente como uma
mulher eu me questiono sobre qual o meu papel, porque e como posso
fazer para mudar as coisas que eu não gosto. Todas as mulheres
sofrem casos de sexismo constantemente em nosso contexto, no
trabalho, nos meios de comunicação... atualmente essa é
uma questão que afeta todos nós, homens e mulheres.
Como a arte pode ser
usada para transformar a realidade?
A Arte tem o poder de
comunicar e unir as pessoas. Muitas pessoas em conjunto geram um
movimento e movimentos mudam o mundo. Eu gosto de ver a arte como um
grande campo de ação para compartilhar, dar
visibilidade e transformar. Eu acredito que a arte tem muitas
possibilidades além de ser um objeto de mercado.
Para conferir todos os trabalhos dessa artista, confira o seu site aqui.
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Édipo de Queiroz Santiago é publicitário e jornalista nascido e criado em Capanema, embora goste de pegar a estrada sempre que pode. Idealizou e administra a comunicação da loja Hypchic e mora atualmente em São Paulo. Arrisca-se em fotografia, tem saudades do doce Halden Boy da Tia Maria e queria estar em Belém todo ano em outubro pra ver o Círio de Nazaré.






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