quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conexão Hypchic #6 | Felipe Acácio


Um estudante de arquitetura. Um fotógrafo. Um desenhista. Um pintor. "Um amor, porém perigoso", segundo uma professora dos tempos de escola o nomeou. Um ser-humano cheio de humor daqueles que confessam ter sido uma criança bem maluquinha e oscilam de muito quieto a uma "peste". Esses são alguns dos vários detalhes que compõem esse capanemense que traz nos seus desenhos estilo e temáticas consistentes herdadas de uma infância cheia de relação com a natureza e encanto pelas luzes da capital. 

O nosso papo dessa sexta edição da coluna é, mais uma vez, com alguém que produz arte em nossa região: Felipe Acácio. Estou muito feliz por abrir espaço para que esse espaço da loja seja uma janela de registro e compartilhamento da arte produzida por alguém de nossa cidade. A entrevista rendeu bastante e espero que vocês gostem de saber mais desse representante de nosso estado e conhecer seus desenhos, pinturas e fotografias.


Fale um pouco dos ambientes que você cresceu? Como esses lugares influenciaram sua visão de mundo e personalidade? 
Eu cresci no meio de muita natureza e em um ambiente distante da loucura de uma cidade grande, embora também me encantasse pelas luzes da capital, ter sido criado numa cidade do interior (Capanema) me nutriu em dar valor as coisas simples e em ver beleza e encantamento do graveto até a copas das árvores.
A vida morando em cidade pequena, indo sempre para fazendas, praias e outras cidades de interior marcam até hoje minha visão diante de muitas coisas, sobretudo no amor a natureza e a consciência em preservá-la. Esses primeiros contatos com a vida, numa época de grande desenvolvimento de uma pessoa, reflete gloriosamente em parte da minha personalidade e a gratidão que carrego pela natureza salta do meu coração todos os dias.

Você pode me falar um pouco do tempo quando você era criança, suas brincadeiras de infância e de referências dessa época que você se recorda? Você consegue identificar algumas pistas dessas referências nos seus trabalhos em desenho e fotografia ?
Eu era uma criança bem maluquinha. As vezes muito quieto, as vezes uma peste. Uma professora minha uma vez escreveu pra mim que eu era “um amor, porém perigoso”. Talvez eu fosse assim mesmo.
Eu adorava inventar brincadeiras com a minha irmã, conversava com os meus brinquedos e tive por muito tempo uma amiga imaginária, a Nina. Nossa, eu até colocava prato e talheres e puxava cadeira pra ela sentar junto à mesa, hahahaha. Eu brincava muito na rua, dormia nas lojas de móveis do comércio, andava pelo mercado, brincava em praças, sempre ia pra praia com minha família ou pra algum igarapé pelos arredores, eu gostava de caçar insetos “soldadinhos” no mato, fazer guerra de castanhola na escola e pensar em armadilhas.

As referências dessa época foram motivadas e incentivadas pelos meus pais, primeiramente. Meu pai sempre me mostrou documentários de arte, filmes do Charlie Chaplin, livros e como meu pai também desenhava e pintava, ele também foi uma referência. Minha mãe também tem um talento para produção de artesanato e muito ouvia MPB, de alguma forma isso me tatuou. Lembro que foi ainda na infância que eu conheci quem era o Portinari, quando eu fui presenteado com um livro e como na arte expresso tudo o que sou e penso e observo, com certeza essas e outras referências estão identificadas nos meus experimentos e trabalhos artísticos.

Como e por quem o universo artístico e audiovisial entrou na sua vida? (Você tem parentes ou amigos ou esse gosto por arte foi intensificado durante o curso na faculdade?)
A sensibilidade artística está em mim desde sempre, como falei, meu pai desenhava e pintava e eu queria fazer igual. Desde criança me expressava através da arte e faço isso desde então. É a minha característica mais antiga e marcante, porque sempre fui muito imaginativo e sempre me dei muito bem com um papel e lápis de cor. Na escola artes era uma das minhas matérias favoritas e o meu olhar artístico foi se desenvolvendo, sofrendo mudanças e amadurecimento também na convivência com amigos artistas, trocando figurinhas, e no conhecimento adquirido no meu curso de Arquitetura, além da minha própria procura por referências na música, cinema, pintura, fotografia, literatura e arquitetura.

Você tem fotógrafos preferidos ? Quais são eles? O que chama a atenção no trabalho deles?
Admiro o trabalho de vários, mas vou resumir e falar de dois fotógrafos cujo trabalho é bem diferente, mas igual no talento e no valor artístico das suas fotografias.
Sebastião Salgado, que é um fotojornalista brasileiro, muito me surpreende com suas fotografias, sempre em preto e branco, de diversos lugares do mundo. O que mais me desperta no trabalho dele, além do seu olhar crítico, são os contrastes sociais da realidade registrados nas fotografias, com muita sensibilidade ele faz com que as pessoas reflitam sobre a situação econômica e social que corroi o mundo, através do choque de imagens onde as desigualdades sociais e a globalização nos fazem criar uma consciência para melhorar isso. 
As fotografias de Jeff Wall me chamam atenção por registrar cenas que ele cuidadosamente planeja, com um grande controle em todos os detalhes, transformando uma imagem pensada em algo “espontâneo”. Jeff Wall aborda em suas fotografias temas que me interessam como sociais e políticos, mostrando a violência urbana, o racismo, a pobreza e os conflitos de gênero e classe.

Se você fosse fazer um painel de suas principais referências artísticas que trabalhos (desenhos, filmes, fotografias, literatura) e artistas estariam neles? 
Putz, é tanta coisa, é tanta referência, não tem painel que caiba, hahaha. Colocaria a pintura do Salvador Dalí, “Girafa em Chamas”, a obra “Le due Frida” de Frida Kahlo, coloraria algo de uma artista que conheci recentemente Aleksandra Waliszewska, o filme Persona do Bergman e o “Poema em Linha Reta” de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos).

Qual é o plano? Enveredar para a produção artística como prioridade ou a arquitetura segue sendo seu foco de atuação profissional?
A prioridade é fazer o que eu gosto seja lá o que for. Arquitetura também requer a produção artística, é algo que dá pra conciliar e se dedicar, não tem porque escolher.

Fale um pouco da sua rotina e descreva seu processo criativo.
Minha rotina poderia se resumir em acordar de manhã e ir trabalhar em um escritório de arquitetura, depois vou pra universidade...de repente estou em um bar, hahaha, ou vendo o pôr-do-sol em algum lugar, pegando uma fuga. Gosto muito de andar, encontrar amigos, ouvir música...todas essas e outras atividades são essenciais no meu processo criativo, porque é a partir da observação cotidiana, do autoconhecimento e de ideias que me surgem durante o dia que procuro canalizar e me expressar artisticamente. 

Suas fotos e desenhos me parecem ter uma marca de melancolia. É isso mesmo? Você usa os desenhos e o ator de fotografar como uma espécie de catarse? Por quê?
Sim. A melancolia é uma ferramenta incrível pra minha produção artística. Quando estou feliz, não produzo muito ou se produzo não é tão profundo quanto naqueles momentos em que eu estou mais sensível ou com uma certa tristeza, porque as vezes de repente algo me choca ou me deixa sensível, daí tudo flui e então produzo, talvez com mais sinceridade comigo, quando termino já estou mais leve, é como terapia, onde às vezes expresso não só os meus sentidos, mas também os sentidos alheios.

Seu processo de produção de desenhos é, predominantemente, mais racional ou intuitivo?  Isto é, você cria uma proposta de uma série e as produz ou produz primeiro os trabalhos sem motivação específica e coleciona aquelas que possuem relação entre si?
As duas formas de processo me cabem, trabalho muito com o experimental artístico uso muito a intuição e o que vou tirando de mim e interpretando da minha maneira, mas gosto do estimulo que é pensar em uma produção, o estudo e a técnica diante de uma criação.

Onde você busca inspiração ?
Na vida, na morte e além de tudo isso.

Para ver mais fotos e ilustrações de Felipe Acácio, visite o nosso painel no Pinterest aqui

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Édipo de Queiroz Santiago é publicitário e jornalista nascido e criado em Capanema, embora goste de pegar a estrada sempre que pode. Idealizou e administra a comunicação da loja Hypchic e mora atualmente em São Paulo. Arrisca-se em fotografia, tem saudades do doce Halden Boy da Tia Maria e queria estar em Belém todo ano em outubro pra ver o Círio de Nazaré.
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